PQ2023

MOSTRA dos PAÍSES e REGIÕES

A Mostra dos Países e Regiões é competitiva e é a seção principal da PQ,

com representação oficial de cada país participante.

 

O núcleo curatorial da Mostra dos Países e Regiões faz parte da PQBrasil e é o responsável

pela curadoria da participação do país nesta mostra na Quadrienal de Praga 2023.

 

NÚCLEO CURATORIAL MOSTRA PAÍSES E REGIÕES

(clique acima para conhecer melhor os integrantes)

Arianne Vitale • Elaine Nascimento • Gregory Slivar • Heloisa Lyra Bulcão

Karina Machado • Marieta Spada Rafael Bicudo

Renato Bolelli Rebouças • Sergio Lessa

 

BRASIL: ENCRUZILHADAS - ACREDITAMOS NAS ESQUINAS

MELHOR TRABALHO EM EQUIPE NA PQ 2023

 

Na PQ'23, a curadoria brasileira levou à Mostra dos Países e Regiões, seção principal com representação oficial de cada país participante, a exposição imersiva e interativa "ENCRUZILHADAS: acreditamos nas esquinas". Foi a primeira vez que o Brasil levou obras criadas por artistas cênicos de todas as unidades da federação, que criaram, de forma coletiva, as sete "oferendas sonoras", integrantes da exposição.

 

Através de uma escuta atenta do lugar escolhido para a exposição – um espaço adaptado em um antigo armazém – a curadoria brasileira propôs a experiência de um corpo que ginga ao atravessar cada esquina, que desvia das adversidades e dança nas encruzilhadas, na tentativa de resistir à morte e encantar a vida. Traduzir, através das sensações provocadas, nesse contexto de instabilidade, agravado pela pandemia, o desafio diário de criar atravessamentos para sobreviver. Seguir acreditando, criando, cantando e dançando, brotando em nossos fazeres artísticos, mesmo que isolados, a distância.

 

A exposição foi composta por uma instalação sensorial, uma dramaturgia de forças e partituras sonoras, condutora da experiência dos visitantes, através da escuta de manifestações artísticas dos 27 estados do país e suas diferentes culturas, referências, memórias e instrumentos. Dispostas pela sala, as OFERENDAS SONORAS construíram o processo da exposição, traduzindo o encontro de artistas que propuseram sonoridades carregadas de traços e texturas, sotaques e lugares, diversidade que revela o que nos une.

 

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A sala do espaço expositivo possibilitou criar um espaço imersivo para o aflorar das SONORIDADES de um Brasil de muitas vozes, discursos e perspectivas, buscando instaurar, pela presença, um estado extra-cotidiano, SAGRADO. Através do ritmo compassado que transforma som em matéria, e que reúne diferentes materialidades para produzir sons, as linhas que estruturam o espaço fora, redesenhadas.

 

A alteração das relações de altura da sala provocava um fluxo incomum, e a presença dos pilares e vigas em diagonais, que a curadoria encarou como metáfora dos desafios vividos atualmente pelas artes cênicas brasileiras, criava um território afetivo em meio às ranhuras do cotidiano, obrigando-nos a nos desviar, a estar atentos, a nos mover.

 

Ao observar as linhas arquitetônicas do espaço expositivo, a curadoria lançou algumas perguntas: “o que sustenta nosso céu? O que nos mantém vivos nessas realidades do Sul? É através dos encantamentos que transformamos o espaço em um portal para o além-mar, desenhando uma cartografia viva que narra os encontros e debates realizados durante o processo de curadoria, e o resultado que se desdobrou com a criação de artistas em colaboração.”

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Dois tambores dispostos na sala convidavam à interação do público e remetiam  à condição brasileira do período pandêmico, entre a alegria e o sufocamento. Um som grave e constante permanecia presente, quase inaudível. Ao tocarem os tambores, um som percussivo dominava o ambiente, trazendo a dimensão de uma festa sempre a ser começada, provocando os corpos a se moverem.

 

O pulsar constante sentido era uma lembrança: estamos vivas e vivos. Naquele compasso, no contrapasso, que os sons se misturavam, compondo um conjunto que se ramificava e desenhava os contornos dessa imersão. Entrar e se deixar guiar pela escuta era o convite: “o que você ouve? A materialidade é invisível aos olhos, mas perceptível aos ouvidos e à pele”.

 

Nos cotidianos de um país que vive o som como uma questão presente e vibrante, a curadoria entendeu a necessidade de absorver esta relação na exposição. Transitando pelo espaço imantado, abrindo corpos e escutas para tantas falas não apenas humanas, mas dos elementos da natureza, dos seres invisíveis, dos encantamentos e do sagrado que nos mantém em estado de alegria. Assim, cada oferenda é sinônimo de uma junção de realidades e contextos de diferentes regiões.

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A luz proposta para a sala imantava as oferendas, preparando a visão para ceder a percepção a outros sentidos. O olhar deixava de ser protagonista no processo de experiência do espaço, celebrando o corpo imerso nos percursos e esquinas de um Brasil manifestamente sonoro.

 

Além do espaço expositivo, expandindo-se pelas ruas do local do festival, a exposição brasileira contou também com uma festa-intervenção artística, com projeção de imagens e trechos de obras cênicas do país e de manifestos de resistência, todos ocorridos entre os anos de 2019 e 2022, regida por um DJ, pesquisador da cultura afro-diaspórica e duas VJs. Uma bandeira com os dizeres "Hear the invisible" (escute o invisível), reforçava o convite ao público para celebrar a vida. Entre os 31 artistas criadores das obras da exposição e da festa-intervenção, estão 8 mulheres, 1 pessoa transgênero, 2 pessoas indígenas e 10 pessoas negras.

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A condição e o clima convidavam a estar no exterior, em relação, e nessa perspectiva, a exposição extrapolou o espaço interno do sótão e atravessando o território simbólico convidava a OUVIR O INVISÍVEL. Tanto de dentro para fora, como de fora para dentro, essa frase provocava o público a ampliar sentidos e conexões, a expandir a percepção para a imensidão de seres e expressões da Terra e da arte, a  ouvir os corações individuais e coletivos, a nos posicionarmos no mundo a favor da vida e da magia que nos mantém de pé.

 

Como um retorno à sociedade do investimento público para a realização da exposição em Praga, a associação Grafias da Cena Brasil propõe difundir e reverberar no Brasil esta participação, além de estruturar o suporte para que cada vez mais artistas, técnicos e pesquisadores das cenas brasileiras possam participar das curadorias e das exposições internacionais, bem como apresentar suas obras, pesquisas, workshops e performances.